E ai pessoal, tudo certinho?

No post de hoje vou dar continuidade à nossa sequência de publicações sobre os diversos tipos de protocolos para Redes Industriais existentes atualmente. O protocolo em destaque hoje é o FOUNDATION fieldbus. Este protocolo, assim como o Profibus PA, foi desenvolvido para trabalhar em Áreas Classificadas.

Então…bora falar sobre Protocolo FOUNDATION fieldbus…

 

Histórico

A organização Fieldbus Foundation surgiu em 1994, da união de dois grupos de empresas internacionais denominadas ISP (Interoperable Systems Project) e WorldFIP (World Factory Instrumentation Protocol). Ambos os grupos tinham como finalidade desenvolver uma tecnologia que pudesse ser usada em áreas classificadas [1], ou seja, áreas potencialmente explosivas. De acordo com [1], com essa união, o grupo passou a ter também um outro objetivo que era criar um padrão internacional baseado em normas IEC que pudesse ser utilizado pela indústria de automação e controle de processo, e daí foi criado o protocolo FOUNDATION fieldbus. Essa organização, existente até hoje, é quem cuida da manutenção e evolução deste protocolo.

 

Características Técnicas [3]

Abaixo, podemos conferir as características técnicas do protocolo FOUNDATION fieldbus:

  • Nível de tensão do sinal: 750 a 1000 mV.
  • Camadas utilizadas: Física (Physical Layer), Enlace (Data Link Layer), Aplicação (Application Layer) e Interface com o Usuário (User Interface).
  • Velocidade de transmissão utilizada: modo H1 – 31,25 Kbps. modo HSE – 10 Mbps ou 100 Mbps
  • Tipo de codificação: Manchester.
  • Alimentação: cada equipamento na rede deve ser alimentado com no mínimo 9V. Essa alimentação pode ser externa ou via barramento.
  • Comprimento máximo do segmento: 1900m sem repetidor (H1) e 100 m (HSE). É permitido o uso de até 4 repetidores, o que faz com que a extensão da rede alcance 9,5 km.
  • Número de equipamentos no barramento: até 32. Este número pode variar de acordo com a classificação da área, o consumo de corrente nestes equipamentos, as distâncias envolvidas entre mestre e escravos e o tipo de cabo utilizado na instalação.
  • Áreas com segurança intrínseca: utilização de até 9 equipamentos em áreas classificadas como Grupo IIC e até 23 equipamentos em áreas classificadas como Grupo IIB. Esses valores usam como referência uma corrente quiescente de 10 mA.
  • Topologias: barramento, árvore ou estrela.

 

Diferencial

O protocolo FOUNDATION fieldbus é semelhante a vários outros padrões existentes, porém, se destaca por possuir um LAS (Link Active Scheduler). De acordo com [2], o LAS é uma entidade responsável por gerenciar as mensagens. Um outro diferencial é a possibilidade de usar um Mestre Backup na rede. Com isto, um equipamento de campo pode ser configurado para assumir o controle da rede caso haja algum problema no controlador principal. Isto assegura que a rede não pare de funcionar enquanto o problema não é resolvido. Isto é possível pois, a base para a arquitetura de um equipamento FF é formada por blocos funcionais, que são responsáveis por executar tarefas como, aquisição de dados, controle PID, cálculos e atuação [2]. Os blocos funcionais possuem algoritmos e bases de dados que são definidos pelo usuário. Os parâmetros de cada bloco são endereçados no Fieldbus FOUNDATION através do esquema TAG/PARÂMETRO/NOME [2].

 

Vantagens [2]

Este protocolo apresenta diversas vantagens, como:

  • Em redes convencionais, por exemplo uma rede 4-20 mA, existe a necessidade de se ter um equipamento que media a troca de mensagens entre os equipamentos de campo (que produzem sinais analógicos)e os sistemas de supervisão. Esses equipamentos mediadores podem ser chamados de Estações de Controle de Campo, e têm como função converter os sinais analógicos do barramento para sinais digitais, que serão utilizados nos sistemas de supervisão. No FOUNDATION fieldbus, tem-se esses equipamentos (sensores, atuadores etc) ligados em rede diretamente com o sistema de supervisão, que gera uma significativa redução nos custos com cabeamento, já que não existem mais a necessidade de se ter um par de fios conectando cada equipamento de campo à Estação de Controle de Campo e cada estação ao sistema de supervisão.
  • Rápido diagnóstico de falhas em equipamentos de campo, que podem ser detectados antes de se tornarem graves;
  • Função Mestre Backup: distribuição das funções de controle nos equipamentos de campo. Dispensa a necessidade de equipamentos dedicados à tarefas de controle;
  • Aumento na robustez do sistema;
  • Custos de engenharia reduzidos;
  • Qualidade da informação de um sinal digital é muito melhor do que dos sinais analógicos;

 

Meio Físico

De acordo com [3]:

As primeiras versões da norma especificam duas opções para a camada física: H1 e H2. O H1, com taxa de 31,25 Kbits/s é voltado basicamente para equipamentos de campo (transmissores, posicionadores de válvula, etc), e pode ser usado em áreas onde é necessária segurança intrínseca (ambientes explosivos). O H2, com taxa de 1 a 2,5 Mbps, seria utilizado para integrar controladores e equipamentos mais complexos. Devido à rápida evolução tecnológica, o H2 foi substituído pelo HSE, que usa Ethernet a 100 Mbps. Assim, para conexão de equipamentos de campo há o FOUNDATION™ Fieldbus H1, com camada física baseada na ISAS50.02-1992 ou IEC61158-2:2000. Para conexão entre PLCs, Linking Devices, Gateways e PCs, há o FOUNDATION™ Fieldbus HSE, baseado em Ethernet (IEEE802.3-2000, ISO/IEC8802.3-2000).

A Tabela 1 mostra um comparativo entre os meios físicos H1 e HSE.

Tabela 1 – Comparação entre as Camadas Físicas do Protocolo FF
Tabela 1 – Comparação entre as Camadas Físicas do Protocolo FF
FONTE: Smar, 2009

Fazendo uma comparação entre os protocolos Profibus e FOUNDATION fieldbus, o Profibus PA atua no mesmo nível que o FOUNDATION fieldbus, e o Profinet atua no mesmo nível que o HSE.

 

FISCO (Fieldbus Intrinsically Safe Concept)

O FISCO é uma norma internacional que dita as regras para instalações em áreas classificadas. De acordo com [3] o modelo FISCO tem as seguintes restrições:

  • Cada segmento de rede deve possuir um único elemento ativo no barramento de campo localizado na área não-classificada;
  • Os demais equipamentos na área classificada são passivos;
  • Cada equipamento deve ter um consumo quiescente mínimo de pelo menos 10 mA;
  • Em áreas de segurança intrínseca e à prova de explosão o barramento deve ter no máximo 1000m;
  • Derivações individuais devem ser limitadas a 30m;
  • Deve-se utilizar 2 terminadores de barramento no barramento principal;
  • É necessário utilizar transmissores e barreiras/fontes aprovadas pelo FISCO;
  • Parâmetros dos cabos: Resistência: 15 a 150 Ohm/km;   Indutância: 0,4 a 1 mH/km;   Capacitância: 80 a 200 nF/km
  • Cabo tipo A: 0,8 mm² (AWG18);
  • Deve-se verificar para cada transmissor se: Tensão de saída < Tensão de entrada;   Corrente de saída < Corrente de entrada;   Potência de saída < Potência de entrada
  • Parâmetros das terminações: R = 90 a 100 Ohm;   C = 0 a 2,2 uF

Um outro conceito utilizado como regra para instalações em áreas classificadas é o FNICO (Fieldbus Nonincendive Concept). De acordo com [3] este é um conceito emergente similar ao FISCO, mas limitado para o uso em Zona 2. O FNICO é permitido em países da América do Norte e ou que se baseiam em padrões desta região.

 

Tipos de Cabos [3]

Existem 4 tipos de cabos que podem ser utilizados em uma instalação. Veja na Tabela 2 as principais características de cada um deles.

Tabela 2 – Características dos Cabos
Tabela 2 – Características dos Cabos

 

Distâncias Mínimas de Separação entre os Cabos [3]

Como foi falado em um dos artigos sobre Profibus DP, uma das situações que podem causar interferência nos sinais que estão sendo transmitidos é a proximidade com alguns tipos de cabos. Para evitar este tipo de problema, veja na Tabela 3 as distâncias mínimas recomendadas para instalação de cabos Profibus.

Tabela 3 – Distâncias Mínimas de Separação entre Cabeamentos
Tabela 3 – Distâncias Mínimas de Separação entre Cabeamentos

Bom pessoal…é isso. Neste artigo foram apresentados os conceitos básicos sobre o protocolo FOUNDATION fieldbus. Espero que tenha sido esclarecedor e que vocês tenham gostado.

Até mais!!!

Referência Bibliográfica:

[1] MATA, R. S. (2011). Descobrindo a Tecnologia Foundation Fieldbus Parte 1: Fundamentos e Principais Características. Disponível em: http://www.mecatronicaatual.com.br/secoes/leitura/756 Acesso feito em 11/12/12.
[2] ALBUQUERQUE, P. U. B., ALEXANDRIA, A. R. (2009). Redes Industriais – Aplicações em Sistemas Digitais de Controle Distribuído. Ensino Profissional Editora.
[3] Manual dos procedimentos de instalação, operação e manutenção – Geral Profibus PA. Smar, 2009.

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7 Comentários

  1. Roberto hung no

    Um outro conceito utilizado como regra para instalações em áreas classificadas é o FNICO (Fieldbus Nonincendive Concept). De acordo com [3] este é um conceito emergente similar ao FISCO, mas limitado para o uso em Zona 2. O FNICO é permitido em países da América do Norte e ou que se baseiam em padrões desta região.
    Lembrando que FNICO não é mais utilizado em normas mais atuis. A classificação do Fieldbus non-incendive
    concept (FNICO) é Ex-nl e este não é mais conteplando pela norma IEC. Foi incorporado para Ex-ic.

    Segue um texto do diretor PF

    Intrinsic safety (IS) and nonincendive energy limitation (Ex nL) keep energy down to a level that’s not able to ignite the surrounding atmosphere during normal operation and under fault conditions for Zone 1 and Zone 0 applications, explains Thomas Klatt, business development manager, fieldbus systems, at Pepperl+Fuchs (www.pepperl-fuchs.com). The IEC decided Ex nL, which was standardized in IEC 60079-15 (FNICO), had to be deleted, and the IEC decided that IS standard IEC 60079-11 (FISCO) had to be extended by Ex ic, because Ex nL only was allowed to be used in a Zone 2 environment and this type of application was not really covered in the IS standard, says Klatt. The IS standard described the requirements for Ex ia for zones 0, 1 and 2 and Ex ib for zones 1 and 2, so in July 2006, the 5th Edition of IEC 60079-11 was published containing the explosion protection Ex ic for Zone 2 only, he explains. For IS in conventional wiring, a proof must be done for each loop, comparing safety parameters and energy-storing components, but the point-to-point connections makes the proof easy to do, explains Klatt.

  2. Roberto hung no

    E para calcular quantos instrumentos pode ser inserido em um segmento deve ser calculado a queda de tensão e macrocyclo dos blocos.

  3. Thiago Damasco no

    Parabéns Rafaela.
    Sempre acompanho seus posts e são demais, de grande valia, tanto para iniciantes na área como para os veteranos reverem os conceitos.
    Obrigado.

  4. RONALDO SILVA no

    Parabéns pelo site……gostaria de informações sobre redes DeviceNet, ControlNet, Modbus (TCP/IP e RTU), IEC-61850) etc.

  5. Gabriel Sanches no

    Rafaela , boa noite .
    Também , estou cursando engenharia elétrica na puc campus poços de caldas . Meus parabéns pelo site e pelo post , bastante esclarecedor me ajudou a realizar um trabalho para a materia de instrumentação .

    Um forte abraço !

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