Era outubro de 1847 quando uma pequena empresa, com apenas 10 funcionários e localizada no jardim de um prédio em Berlim, entrou no mercado com os seus primeiros telégrafos. Seus fundadores, Werner Von Siemens e o mecânico de precisão Johann Georg Halske, não tinham ideia que estavam transformando a Era Industrial.
Agora, quase dois séculos depois, a empresa continua o movimento de protagonismo revolucionário ao liderar a transformação digital da Indústria 4.0 como uma das maiores potências tecnológicas do mundo.
O legado da Siemens por seus 175 anos foi celebrado durante um evento de gala na capital alemã, no qual o passado, além de lembrado, serviu de fundação para o futuro: o que esperar dos próximos anos? Como essa história continua?
“A resposta? Tecnologia e inovação? Sim, isso é parte da resposta. Afinal, a Siemens é uma empresa de tecnologia e temos orgulho de nossas invenções e de nossos produtos. Mas a tecnologia é criada por pessoas e para pessoas. Só é valioso se realmente servir às pessoas”, destacou Roland Bush, diretor executivo da Siemens, durante a comemoração que reuniu empresários, políticos, pesquisadores e outros importantes atores sociais.
Gêmeos Digitais
Grande destaque da celebração ficou por conta dos “gêmeos digitais” (“digital twins”), uma tecnologia que se caracteriza por ser a réplica digital exata de algo no mundo físico, com o objetivo de ajudar a melhorar ou corrigir de alguma forma a versão real.
Na Siemens, a tecnologia já permite que sejam criadas variações de projetos sobre as quais são feitas simulações de soluções para possíveis desafios industriais e urbanos, a partir de uma construção em duas etapas: primeiro no mundo digital e depois no mundo físico.
Assim, quando o projeto sai do papel, ele já integra propostas para resolução de problemas que foram previamente testadas em simulação, evitando ou minimizando erros de alto impacto econômico e social.
“Nós cometemos erros primeiro no mundo digital e vemos quais serão os impactos”, explicou Cedrik Neike, membro do Conselho de Administração da Siemens e CEO da Digital Industries. “Agora, em vez de as pessoas se adaptarem a uma cidade ou bairro, podemos adaptar a cidade ou bairro às pessoas”.
Veja como funciona:
Outro ponto positivo do digital twin é a otimização de todos os aspectos do processo: idealização, planejamento, construção, operações e manutenção, garantindo o melhor aproveitamento de recursos, a simplificação de procedimentos e a manutenção preditiva dos equipamentos.
Do ponto de vista humano – seja mão de obra física ou intelectual –, a ferramenta estabelece um canal acessível para a comunicação dos profissionais envolvidos, colocando-os em um mesmo ambiente, independentemente da área do projeto a qual pertencem.
O nível de precisão oferecido pelo gêmeo digital é um marco e coloca a Siemens na vanguarda do movimento de transformação, como destacou seu CTO.
“Há mais de uma década, nossa tecnologia tem ajudado os clientes a aumentarem sua produtividade. Hoje, junto com parceiros como NVIDIA e Bentley, oferecemos o mais abrangente gêmeo digital baseado em física, que se comporta igualzinho à coisa real”.
Metaverso Industrial
A Siemens também pretende que todo o segmento industrial seja beneficiado pelos gêmeos digitais. Para isso, a companhia alemã criou o Siemens Xcelerator, plataforma aberta de negócios digitais, que inclui um portfólio de hardware, software e serviços digitais direcionados e habilitados para a Internet das Coisas (IoT).
“Nós acreditamos que o jeito de encarar os desafios que vem com a digitalização é continuar combinando os mundos real e digital, olhando o ciclo de vida da produção e do produto. Ter esses dois ciclos trabalhando juntos permite o fluxo de dados – e tudo se resume a trabalhar com dados”, avaliou Rainer Brehm, CEO global de Automação Industrial da Siemens.
É assim – analisando dados ainda durante a produção, com base em um protótipo digital idêntico – que a companhia alemã criou o “SimRod”, um veículo elétrico experimental, aperfeiçoado com a redução no peso de seus componentes, e melhor eficiência energética e aerodinâmica.
Além de um processo de otimização contínua, que resulta em produtos superiores, o uso de dados consegue aumentar significativamente a produtividade das plantas industriais e reduzir o consumo de energia, tornando os processos mais sustentáveis e melhores.
Tais soluções inovadoras e um ecossistema aberto de parceiros também ajudam diferentes fabricantes a medir e diminuir sua pegada de carbono – desde o desenvolvimento de produtos com eficiência energética até controle das emissões de CO2 das instalações e na cadeia de suprimentos.
Para a indústria, que hoje produz 20% do CO2 global e responde por 30% do consumo de energia do planeta, essas melhorias são uma resposta contundente do setor à demanda mundial pela transição energética e mais sustentabilidade.
A “vizinhança inteligente” da Siemens
Parte da Revolução Industrial 4.0, proposta pela Siemens, passa pela ressignificação do conceito de planejamento urbano, ao trazer para o “hoje” soluções de renovação e, até mesmo, criação de áreas urbanas consideradas “do futuro”.
A tradicional empresa alemã já utiliza digital twins para fazer a simulação digital da revitalização da Siemensstadt Square, uma praça fundada em 1897, a partir da compra de um terreno pela Siemens & Halske. O projeto propõe transformar, até 2035, os 73 hectares do seu entorno em um distrito urbano de última geração, que integrará habitação, trabalho, pesquisa, sustentabilidade e mobilidade.
Usando o metaverso digital, busca-se prever como o bairro inteligente funcionará e as formas de torná-lo mais sustentável, inclusivo e eficiente. Ao simular e testar os diferentes processos, a partir de dados do mundo real, a tecnologia também evita riscos a um investimento da ordem de R$ 17,2 bilhões (3,4 bilhões de euros) e facilita o planejamento e a implementação de edifícios inteligentes, transporte sustentável e fornecimento de energia eficiente, que estão no coração dessa transformação urbana.
“Essa combinação [entre digital e real] abrirá um mundo totalmente novo de colaboração e criará muitas oportunidades, em parte por capacitar todos para desenvolver e experimentar novas mais rápido, fácil e sem qualquer risco”, avisou Peter Körte, CTO e CSO da Siemens AG.
O novo distrito exigirá a integração entre edifícios modernos e históricos com a inclusão de hubs de inovação para inteligência artificial, eletromobilidade, Indústria 4.0 e IoT. Dos 1.000.000m² de área bruta, cerca de 420.000m² serão para escritórios modernos planejados para a Siemens e outras empresas de tecnologia, além de um espaço para 20 mil empregos adicionais.
A revitalização também prevê um campus de pesquisa de 89.000m² e a construção de 2,7 mil apartamentos, onde viverão quase 6 mil pessoas.
Tudo combinado ao fornecimento de energia e mobilidade sustentáveis, com a previsão de neutralidade de carbono, a partir da instalação de tecnologias digitais que visam rastrear, gerenciar e minimizar as emissões.
Depois de já construídos, os edifícios inteligentes farão o uso controlado e constantemente atualizado de energia renovável, gerada localmente, e funcionarão de forma acoplada com os sistemas de energia disponíveis para transportes.
“Quando desenvolvemos um novo ambiente urbano, temos que olhar para energia, prédios, transporte e produção. É isso que está sendo feito aqui na Siemensstadt Square”, defendeu Franziska Giffey, prefeita de Berlim.
O futuro já começou?
Pesquisa da Markets & Markets, de junho de 2022, apontou que o mercado de digital twins deve passar de US$6,9 bilhões para US$73,5 bilhões nos próximos cinco anos – um crescimento de 60,6%.
De acordo com Peter Körte, essa explosão na adesão da tecnologia representa a velocidade das transformações, não apenas na maneira como as pessoas compram ou trabalham, como também na forma como os negócios inovam, colaboram e produzem.
“Da mesma maneira que nos primórdios da internet, ainda não podemos dizer onde exatamente tudo isso nos levará. Mas nós, da Siemens, faremos parte dessa jornada. Porque para a gente, este mundo virtual é apenas a evolução do que a Siemens faz hoje. Trata-se de combinar os mundos real e digital”.