Não faz muito tempo que era normal andar de carro sem o cinto de segurança. Essa invenção já centenária, no entanto, demorou quase meio século para começar a fazer parte das linhas de produção, sendo remodelada nos anos seguintes até que em 1959 tomou a forma mais conhecida hoje em dia que é a do cinto de 3 pontas, graças ao trabalho do engenheiro da Volvo Nils Bohlin.
É muito difícil imaginar hoje um carro sem esse acessório e, da mesma forma, refletir sobre quantas vidas foram perdidas pela negligência ao não usá-lo, parece algo muito óbvio e honestamente é. Outros exemplos poderiam ser elencados aqui ad eternum para ficar ainda no ramo dos transportes poderíamos falar sobre o uso de capacetes nas motos, nos também cinto de segurança nas aeronaves.
Se olharmos para o nosso dia a dia doméstico, as grades de segurança para evitar quedas de animais e crianças de janelas e varandas, os dispositivos de segurança elétrica DER e disjuntores. A lista é realmente longa.
Quando olhamos para o nosso local de trabalho, no caso as indústrias, é engraçado como algumas vezes nítidas situações de risco se encaixam nos exemplos acima – situação de extremo risco – mas infelizmente parecem “passar batidos”.
É bem verdade que ao longo dos últimos anos o tópico segurança do trabalho ganhou um up alcançando um merecido lugar de destaque mas ainda nos deparamos com situações de risco que poderiam ser facilmente evitadas e precisamos olhar para isso com atenção.
Eu gostaria de relatar uma experiência pessoal que vivi muitos anos atrás. Durante uma visita de rotina em uma empresa estava eu ao lado de um tanque aberto, o tanque não era muito grande devia ter uns 1,5 m de altura, mas como ele estava posicionado sobre uma armação de metal não era possível ver nada do que estava lá dentro. Ele também não possuía nenhum medidor de nível. Eu tinha a informação de que aquele tanque tinha apenas água.
Ok. Estava eu ali do lado do tanque por alguns minutos e tive que me deslocar para uma outra direção, andei algo como uns 10 metros e escutei um barulho. O tanque havia transbordado segundos depois de eu ter saído daquela posição. Tudo bem eu pensei, no máximo teria ficado todo molhado mas ao olhar atentamente para a água que estava transbordando percebi que ela estava quente, bem quente.
Dei uma olhada na indicação do transmissor de temperatura, ele marcava algo em torno de 90°C (!), eu tinha acabado de escapar de um acidente sério. Um tanque, de água quente, a coisa mais básica do mundo. Eu teria me queimado de verdade pois aquele pequeno tanque não tinha uma chave de nível.
Aquilo ficou na minha cabeça durante um bom tempo e me fez refletir como as vezes concentramos nossos esforços em coisas que são mais perigosas e aparentemente mais sérias como: produtos corrosivos ou tóxicos, temperaturas muito altas ou muito baixas, grandes volumes sendo transportados, ferramentas de corte, etc e negligenciamos os “pequenos” mas igualmente perigosos riscos do nosso dia a dia.
Já pude acompanhar diversos investimentos de grande porte em sistemas complexos para mitigação de falhas e contenção de danos, já vivi situações de risco mas tudo poderia ter acabado ali, do lado de um simples tanque de água, pela falta de um dispositivo simples.
Da mesma forma que os nossos carros se tornam cada vez mais seguros com a utilização de materiais e projetos avançados capazes de amortecer impactos e preservar a vida do motorista e dos passageiros como nunca antes, tudo pode ser colocado em cheque caso ninguém esteja utilizando o bom e velho cinto de segurança.
Quando caminho pelas plantas hoje em dia sempre busco olhar para os tanques e identificar se há um sistema de contenção, um “ladrão”, um medidor, alguma coisa que possa ser utilizada para evitar que aquele tanque transborde e vejo que muitas vezes ao comentar sobre o assunto não é dada a devida importância. E ai eu penso sobre como isso um dia pode causar um acidente, como quase aconteceu comigo e provavelmente acontece inúmeras vezes ao redor do mundo com centenas de pessoas. Muitas não terão a sorte que eu tive.
Pense bem: na maioria dos lugares hoje não conseguimos nem cruzar a portaria sem estar devidamente parametrizados com o EPI: óculos, capacete, bota, luvas, máscaras, coletes refletores, protetores auriculares. Infelizmente, dependendo do produto, nem uma armadura do esquadrão antibombas vai te ajudar se o tanque transbordar sobre a sua cabeça.
E tudo fica ainda mais surpreendente quando olhamos para a solução do problema: a boa e velha chave de nível. Esse dispositivo simples e de fácil aplicação pode existir em diversas configurações: pode ser destinada a líquidos ou sólidos, ser vibratória ou capacitiva, acionar um relé ou mandar um sinal digital e custa muito pouco perto do que pode prevenir.
No posicionamento de “nível alto” a chave sempre será instalada no topo do tanque, então muitas vezes pode ser muito fácil de integrá-la à instalação. Mesmo quando se trata de um tanque fechado ou de algum outro formato “fora do padrão” a coisa mais simples que haverá em termos de instalação é uma chave de nivel. Não tem desculpa para que você tenha algum tanque em sua instalação sem um dispositivo desses.
Se a questão da segurança não te convencer pense pelo lado econômico. Quem já tem ou teve piscina sabe que se por algum motivo você tiver que esvaziar a piscina, dependendo do tamanho, você pode estar vendo – literalmente – uns R$ 900,00 indo para o ralo. E ai estamos falando de água, imagine qualquer outra coisa que tenha um valor maior que esse. Não é mais barato investir em uma proteção?
Assim como eu pretendo continuar utilizando o cinto de segurança enquanto estiver no carro, e não deixar veneno de rato ao alcance das crianças, vou também continuar nessa jornada de promover a utilização das chaves de nível para onde eu for.
Quando eu te perguntar pessoalmente, espero escutar de você que tem tanques em sua planta:
– Sim, já possuímos chaves de nível!!!
Artigo escrito por Leandro Calarge, Marketing Intelligence na Endress+Hauser Brasil.